Alfred Hitchcock: A Biografia Completa do Mestre do Suspense
Alfred Joseph Hitchcock (13 de agosto de 1899 – 29 de abril de 1980) foi um dos cineastas mais influentes da história do cinema. Conhecido como “o Mestre do Suspense”, Hitchcock dirigiu mais de 50 longas-metragens em uma carreira que atravessou mais de cinco décadas. Seu estilo único, marcado pelo uso do suspense psicológico, narrativa visual inovadora, personagens ambíguos e técnicas cinematográficas revolucionárias, tornou-se referência para gerações de cineastas.
Primeiros Anos (1899–1920)
Alfred Hitchcock nasceu em Leytonstone, um subúrbio de Londres, Inglaterra. Era o mais novo de três filhos de William Hitchcock e Emma Jane Hitchcock. Sua família era católica romana, o que era incomum na Inglaterra protestante.
Hitchcock sempre descreveu sua infância como solitária e marcada pelo medo. Um episódio emblemático foi quando seu pai o mandou à delegacia com uma nota pedindo que o policial o prendesse por cinco minutos “para que ele aprendesse o que acontece com os meninos maus”. Este evento teve profundo impacto em sua psique e influenciou sua obsessão com o medo, punição e autoridade.
Estudou no St. Ignatius College, uma escola jesuíta, onde começou a mostrar interesse por mapas, ferrovias e engenharia.
Início da Carreira no Cinema (1920–1925)
Após estudar engenharia e design na London County Council School of Engineering and Navigation, Hitchcock trabalhou brevemente como designer de cabos elétricos. Mas sua verdadeira paixão era o cinema.
Em 1920, conseguiu um emprego na Famous Players-Lasky, filial britânica da Paramount, como designer de intertítulos de filmes mudos. Rápido em aprender, envolveu-se na direção de arte, roteiro e assistência de direção.
Fez sua estreia como diretor com o filme “The Pleasure Garden” (1925), produzido na Alemanha. Seu primeiro sucesso real veio com “The Lodger: A Story of the London Fog” (1927), um thriller sobre um assassino serial, que já apresentava os temas e a estética que o tornariam célebre.
Ascensão no Cinema Britânico (1926–1939)
Durante os anos 1930, Hitchcock se tornou o diretor mais importante do cinema britânico. Entre seus sucessos dessa fase estão:
-
“Blackmail” (1929) – Primeiro filme sonoro do cinema britânico.
-
“The Man Who Knew Too Much” (1934) – Um thriller internacional que foi posteriormente refilmado por ele mesmo em 1956.
-
“The 39 Steps” (1935) – Mistura de suspense, espionagem e humor britânico.
-
“The Lady Vanishes” (1938) – Um dos maiores sucessos da era pré-Hollywood.
Seu trabalho chamou a atenção de Hollywood, e em 1939 ele se mudou para os Estados Unidos com sua esposa e colaboradora Alma Reville.
Início da Era de Ouro em Hollywood (1940–1950)
Hitchcock assinou contrato com o produtor David O. Selznick. Seu primeiro filme americano, “Rebecca” (1940), venceu o Oscar de Melhor Filme, marcando sua chegada triunfal.
Durante a década de 1940, dirigiu obras importantes como:
-
“Suspicion” (1941) – Com Cary Grant e Joan Fontaine, que venceu o Oscar.
-
“Shadow of a Doubt” (1943) – Que Hitchcock considerava seu melhor filme.
-
“Spellbound” (1945) – Com uma famosa sequência de sonho criada por Salvador Dalí.
-
“Notorious” (1946) – Um dos maiores thrillers românticos da época, com Ingrid Bergman e Cary Grant.
A Era de Ouro: Obras-Primas e Reconhecimento Mundial (1951–1964)
Este período marcou o auge criativo de Hitchcock, com sucessos consecutivos que redefiniram o suspense no cinema:
Principais Filmes:
-
“Strangers on a Train” (1951) – Tema de troca de crimes entre dois estranhos.
-
“Dial M for Murder” (1954) – Suspense de manipulação e assassinato.
-
“Rear Window” (1954) – Inovador uso do ponto de vista; considerado uma obra-prima.
-
“To Catch a Thief” (1955) – Glamour e mistério na Riviera Francesa com Grace Kelly.
-
“The Man Who Knew Too Much” (1956) – Remake de seu próprio filme britânico.
-
“Vertigo” (1958) – Hoje considerado seu maior filme; inicialmente subestimado.
-
“North by Northwest” (1959) – Mistura perfeita de espionagem, ação e romance.
-
“Psycho” (1960) – Um dos filmes mais influentes da história do cinema; quebrou tabus.
-
“The Birds” (1963) – Suspense ecológico e psicológico baseado na obra de Daphne du Maurier.
Nesse período, Hitchcock consolidou sua marca registrada: aparições em seus próprios filmes, o uso da loira glacial, tramas com “homens errados”, McGuffins (elementos que movem a trama mas não têm importância real), e o domínio absoluto da narrativa visual.
Hitchcock na Televisão e Cultura Pop
Nos anos 1950 e 60, Hitchcock alcançou também o sucesso na televisão com o programa “Alfred Hitchcock Presents” (1955–1965), onde apresentava histórias de mistério com sua famosa silhueta e tom irônico.
Sua imagem e estilo tornaram-se ícones da cultura pop. Seu modo de dirigir, promover seus filmes com trailers cômicos e manipuladores, e seu controle criativo total eram inovadores.
Últimos Trabalhos e Declínio (1966–1976)
Após “The Birds”, seus filmes passaram a ter recepção mista:
-
“Marnie” (1964) – Controverso, mas hoje reavaliado.
-
“Torn Curtain” (1966) – Com Paul Newman e Julie Andrews.
-
“Topaz” (1969) – Envolvendo a Guerra Fria.
-
“Frenzy” (1972) – Retorno à forma, com suspense violento e psicológico.
-
“Family Plot” (1976) – Seu último filme, mais leve e cômico.
Estilo e Temas
Hitchcock era obcecado por controle emocional do espectador. Ele acreditava que o suspense é mais poderoso que o susto, e preferia mostrar ao público mais do que os personagens sabiam. Seus temas recorrentes incluem:
-
Falsas acusações e perseguições.
-
Dualidade da natureza humana.
-
Medo, voyeurismo e sexualidade reprimida.
-
A figura da mulher loira idealizada e o homem culpado.
Era perfeccionista, controlador e meticuloso nos storyboards e mise-en-scène. Utilizava técnicas como plano-sequência, perspectiva subjetiva, trilhas sonoras icônicas, e montagem psicológica (como a famosa cena do chuveiro em Psycho).
Vida Pessoal
Hitchcock casou-se com Alma Reville em 1926. Alma foi sua parceira criativa em quase todos os seus filmes – colaborando no roteiro, montagem, e decisões estéticas. Tiveram uma filha, Patricia Hitchcock, que também atuou em alguns filmes do pai.
Era conhecido por seu humor negro, obsessões peculiares e dificuldades com atrizes, especialmente com Tippi Hedren, com quem teve uma relação profissional tumultuada.
Reconhecimento e Prêmios
Apesar de sua imensa influência, Hitchcock nunca ganhou um Oscar de Melhor Diretor. Recebeu:
-
Irving G. Thalberg Memorial Award (1968) – Homenagem honorária da Academia.
-
Cavaleiro da Ordem do Império Britânico (KBE) – Concedido pela Rainha Elizabeth II em 1980.
-
BAFTA Fellowship e diversos prêmios honorários e retrospectives em festivais de cinema.
Morte e Legado
Alfred Hitchcock morreu em 29 de abril de 1980, em Los Angeles, aos 80 anos, devido a falência renal. Sua influência no cinema é incomensurável. É considerado o maior mestre do suspense de todos os tempos e um dos maiores diretores da história.
Seus filmes continuam sendo estudados por cineastas, críticos e estudantes, e sua marca continua presente em diretores como Brian De Palma, David Fincher, Martin Scorsese e muitos outros.
Filmografia Selecionada
Ano | Filme |
---|---|
1927 | The Lodger |
1934 | The Man Who Knew Too Much |
1935 | The 39 Steps |
1940 | Rebecca |
1943 | Shadow of a Doubt |
1951 | Strangers on a Train |
1954 | Rear Window |
1958 | Vertigo |
1959 | North by Northwest |
1960 | Psycho |
1963 | The Birds |
1972 | Frenzy |
1976 | Family Plot |
Alfred Hitchcock reinventou o cinema de suspense, usando a linguagem visual de forma poderosa para manipular emoções. Sua carreira é um estudo de inovação, técnica, e controle narrativo. Mais do que um diretor, Hitchcock foi um arquiteto do medo e um artista da tensão. Sua obra permanece viva, influente e admirada em todo o mundo.
0 Comentários