- Olga Benario Prestes nasceu em 12 de fevereiro de 1908, em Munique, na Alemanha, em uma família judia de classe média. Seu pai, Leo Benario, era advogado e defensor de causas progressistas, enquanto sua mãe, Eugenie Gutmann, era uma mulher mais tradicional, voltada à vida doméstica. Desde muito jovem, Olga demonstrou forte inclinação por ideias políticas e sociais, em especial aquelas ligadas ao socialismo e ao combate às desigualdades. Crescendo em um ambiente politicamente efervescente na Alemanha do pós-Primeira Guerra Mundial, foi influenciada pelo caos econômico, o surgimento de movimentos revolucionários e a repressão estatal.
- Ainda na adolescência, Olga se filiou à Juventude Comunista Alemã (Kommunistischer Jugendverband Deutschlands – KJVD), braço juvenil do Partido Comunista Alemão. Com apenas 15 anos, já participava de reuniões clandestinas, panfletagens e manifestações contra o governo e o sistema capitalista. Sua militância aguerrida e carismática a levou a ocupar posições de destaque rapidamente dentro da organização. Aos 16 anos, decidiu sair de casa para viver integralmente a vida política, o que causou grande choque e ruptura com sua mãe, embora seu pai continuasse a apoiá-la discretamente.
Em 1928, Olga participou de uma ação ousada que marcou sua fama dentro do movimento comunista: auxiliou na libertação de Otto Braun, um dos principais líderes do Partido Comunista Alemão, que estava preso em Moabit, Berlim. Os dois fugiram juntos para a União Soviética, onde Olga passou a integrar a Internacional Comunista (Comintern), trabalhando na formação de quadros revolucionários de diferentes países. Na URSS, ela se aprofundou na doutrina marxista-leninista, recebeu treinamento militar e se tornou agente da Internacional Comunista. Passou por treinamento político e militar no Instituto Leninista de Moscou, onde também aprendeu línguas e táticas de combate, espionagem e resistência.
Foi na União Soviética que Olga foi designada, por ordens do Komintern, para acompanhar o dirigente comunista brasileiro Luís Carlos Prestes, então conhecido como o “Cavaleiro da Esperança”, na missão de retornar clandestinamente ao Brasil e liderar uma insurreição armada contra o governo de Getúlio Vargas, em 1935. Disfarçados de casal burguês, Olga e Prestes desembarcaram no Rio de Janeiro em 1934. Com identidades falsas, eles organizaram uma complexa rede de apoio e articulação com o Partido Comunista Brasileiro, visando instaurar um governo popular revolucionário.
- A Intentona Comunista, como ficou conhecida a revolta de novembro de 1935, acabou sendo fracassada, duramente reprimida pelas forças do governo Vargas. Prestes foi preso e Olga, grávida de seu primeiro filho, também foi capturada meses depois, em março de 1936, após ser localizada pelo serviço secreto brasileiro com apoio da polícia política alemã, então já sob controle do regime nazista. A prisão de Olga gerou intensa repercussão internacional, sobretudo pela sua condição de gestante e cidadã alemã em risco iminente sob o regime de Hitler.
- Apesar dos apelos de entidades internacionais e de figuras públicas, o governo Vargas decidiu extraditá-la para a Alemanha nazista, em setembro de 1936, em uma ação amplamente denunciada como desumana e ilegal. Olga foi embarcada à força em um navio rumo à Europa, algemada, sob vigilância da Gestapo, e já no terceiro trimestre da gravidez. Ao chegar à Alemanha, foi imediatamente presa e enviada para o presídio de Barnimstraße, em Berlim, onde deu à luz sua filha, Anita Leocádia Prestes, em novembro do mesmo ano. A menina foi posteriormente retirada de seus braços e entregue à avó paterna, Leocádia Prestes, no Brasil, após intensa pressão de movimentos internacionais.
- Após o nascimento da filha, Olga foi transferida para campos de concentração, passando por Lichtenburg e depois Ravensbrück, onde permaneceu em condições brutais. Mesmo diante de torturas físicas e psicológicas, recusou-se a colaborar com os nazistas ou a renegar seus ideais comunistas. Tornou-se uma figura respeitada entre as prisioneiras políticas, atuando como enfermeira, conselheira e líder moral em meio à barbárie. Sua coragem, integridade e solidariedade a tornaram símbolo de resistência dentro dos campos.
- Em 1942, após anos de prisão e trabalhos forçados, Olga Benario foi levada ao campo de extermínio de Bernburg, um dos locais do programa Aktion T4, iniciativa nazista de extermínio de pessoas consideradas “inaptas” ou “indesejáveis”. Lá, foi assassinada em uma câmara de gás, aos 34 anos de idade.
- A morte de Olga não foi em vão.
Sua história comoveu o mundo e se tornou símbolo de resistência contra o fascismo, o autoritarismo e o preconceito. Seu nome figura entre os mártires da luta pela liberdade e pelos direitos humanos. Diversas obras literárias, filmes e estudos históricos recontam sua trajetória, como o romance biográfico Olga, de Fernando Morais, que mais tarde virou filme dirigido por Jayme Monjardim, em 2004. - Hoje, Olga Benario Prestes é lembrada não apenas como companheira de Prestes, mas como uma combatente internacionalista que enfrentou com bravura a repressão em dois continentes. Sua vida foi marcada pela entrega incondicional à causa dos oprimidos e à esperança em um mundo mais justo. Sua memória permanece viva em movimentos sociais, espaços de memória política e na luta das mulheres por emancipação e liberdade.
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