Vicente Matheus: O maior presidente do Corinthians de todos os tempos

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Vicente Mateos Valle, mais conhecido como Vicente Matheus, nasceu em 28 de maio de 1908, na cidade de Toro, na província de Zamora, na Espanha. Ainda criança, imigrou para o Brasil em 1914, aos seis anos de idade, junto de sua família, em busca de melhores condições de vida. Estabeleceu-se com os pais na cidade de São Paulo, na região da Mooca, onde passou a infância e juventude. Vindo de uma família humilde, trabalhou desde cedo para ajudar no sustento da casa, o que o aproximou da realidade do povo simples da capital paulista. Esse traço de origem simples nunca o abandonaria e se tornaria um dos elementos centrais de sua imagem pública e da identificação que viria a ter com a torcida corinthiana.
Na vida adulta, Vicente Matheus dedicou-se inicialmente à atividade de pedreiro, seguindo os passos do pai, e mais tarde se tornou empresário do ramo da construção civil. Construiu uma carreira de sucesso com sua própria empresa de pavimentação, o que lhe proporcionou um certo conforto financeiro. Foi por meio de obras realizadas no bairro do Tatuapé, especialmente nas proximidades do Parque São Jorge, sede do Sport Club Corinthians Paulista, que ele se aproximou do clube pelo qual nutriria uma paixão eterna. No começo da década de 1930, tornou-se sócio do Corinthians e logo se envolveu com os bastidores do clube, participando ativamente da vida social e administrativa da instituição.


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O envolvimento mais direto com o futebol começou na década de 1950, quando assumiu o cargo de diretor de futebol. Em 1954, esteve presente nas comemorações do título paulista do IV Centenário, um marco na história do clube. Sua figura carismática, seu estilo direto e seu amor incondicional pelo Corinthians o tornaram rapidamente uma personalidade querida pela torcida. Em 1959, foi eleito presidente do clube pela primeira vez. Essa vitória marcaria o início de uma longa trajetória como dirigente máximo do Timão, somando ao todo oito mandatos: 1959, 1972, 1973, 1975, 1977, 1979, 1987 e 1989. Somando todos esses períodos, Vicente Matheus comandou o Corinthians por dezoito anos — um recorde absoluto na história do clube.
Durante seus mandatos, o Corinthians passou por momentos decisivos. Um dos mais marcantes foi a conquista do Campeonato Paulista de 1977, que encerrou um jejum de 23 anos sem títulos, um período que atormentava a imensa torcida alvinegra. Aquele campeonato ficou eternizado pela vitória sobre a Ponte Preta, no Estádio do Morumbi, com gol do atacante Basílio, e pela comoção que tomou conta dos torcedores. Matheus, emocionado, virou símbolo da retomada da grandeza corinthiana. Ele ainda seria o presidente em outras conquistas estaduais, como os Campeonatos Paulistas de 1979 e 1988. Embora não estivesse mais na presidência em 1990, sua influência e legado foram fundamentais para a estrutura que permitiu ao clube conquistar seu primeiro título do Campeonato Brasileiro naquele ano.


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Além das conquistas esportivas, Vicente Matheus se destacou por sua maneira única de se comunicar. Suas frases, frequentemente marcadas por erros de português e trocadilhos involuntários, viraram folclore no futebol brasileiro. Expressões como “peço aos corintianos que compareçam às urnas para naufragar nossa chapa” ou “haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão” são lembradas até hoje com carinho e humor. Essas frases não revelavam apenas simplicidade, mas também um modo autêntico e apaixonado de viver o futebol e a presidência de um clube do povo.
Matheus não media esforços para ajudar o Corinthians. Em diversas ocasiões, investiu recursos próprios no clube, bancando contratações e auxiliando na administração financeira. Sua gestão, embora por vezes considerada conservadora e até amadora pelos padrões técnicos da época, era sempre pautada pelo amor incondicional ao clube. Foi ele quem contratou, por exemplo, o doutor Sócrates, que se tornaria símbolo não apenas do futebol arte corinthiano, mas também da Democracia Corintiana, movimento político e esportivo único no cenário nacional. Ainda que o auge desse movimento tenha ocorrido após sua saída da presidência, a contratação de Sócrates em 1978 foi decisiva para esse capítulo importante da história do clube.


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Na vida pessoal, Vicente Matheus se casou com Marlene Matheus, que também viria a se destacar na história do Corinthians ao se tornar, anos depois, a primeira e única mulher a presidir o clube, entre 1991 e 1993. O casal era muito próximo e sempre aparecia junto nos eventos do clube, sendo vistos como símbolos da paixão corinthiana. Marlene herdou o carisma e o estilo do marido, mantendo sua memória viva mesmo após sua saída da cena pública.
Vicente Matheus faleceu em 8 de fevereiro de 1997, aos 88 anos, vítima de insuficiência respiratória. Estava internado havia duas semanas no Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. Seu falecimento foi amplamente noticiado, e o luto tomou conta da torcida do Corinthians e do futebol brasileiro. Ele foi sepultado no Cemitério da Quarta Parada, na zona leste paulistana, acompanhado por uma multidão de torcedores e amigos.

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O legado de Vicente Matheus transcende as fronteiras do futebol. Ele se tornou símbolo de uma era em que a paixão falava mais alto do que a técnica, em que o amor ao clube superava qualquer adversidade. Sua figura carismática, simples e verdadeira permanece viva na memória dos corinthianos. Em sua homenagem, o clube frequentemente realiza eventos que celebram sua história, e em 2025, uma série documental intitulada “Vicente Matheus – Haja o Que Hajar” foi lançada, retratando sua vida com riqueza de detalhes e depoimentos emocionantes.
Vicente Matheus não foi apenas um presidente. Foi, para muitos, a alma do Corinthians durante décadas. Representou o torcedor comum, o trabalhador, o apaixonado, aquele que coloca o clube acima de tudo. Sua história é parte inseparável da construção da identidade do Sport Club Corinthians Paulista — um clube do povo, com um presidente do povo.